Muitas vezes nos deparamos com uma obra que define a própria arte, como acontece frequentemente comigo na fotografia, a minha favorita. Apesar de ter meus filmes prediletos [Pulp Fiction, Lua de Fel, Goodfellas, etc] , poucas vezes tive essa sensação com o cinema e nunca em um filme na sua totalidade, mas somente em algumas cenas. [vide post passado]
Foi então que assisti "8 e 1/2" (1963) do famoso Frederico Fellini e já na primeira cena tive o mesmo pensamento de quando vi o começo de Apocalypse Now [vide post passado(2)]. A fotografia é como eu sempre sonhei e esperei ver em um filme. Enquadramento e contraste perfeitos, como se cada frame fosse uma fotografia digna de premiação. Além de esbanjar na qualidade técnica, a criatividade dos enquadramentos também é algo invejável, sem falar do trabalho feito com os planos da imagem, deixando todas as cenas completas de forma que quando algo se desfecha no plano de fundo, imediatamente o foco muda e o primeiro plano começa a ser o centro das atenções, tendo assim uma direção muito dinânica, o que leva o espectador a entrar e a se sentir parte do mundo que está assistindo. Só senti isso com "8 e 1/2" e com "Os Sonhadores" do Bertolucci, portanto deve ser coisa de italiano; isso de querer ser sempre dinâmico e hospitaleiro, até com os filmes.
O enredo, assim como li em todos os sites da internet, é o de um diretor, chamado Guido, com um "bloqueio criativo" e que busca inspiração enquanto luta contra os seus problemas pessoais em meio a algumas lembranças da sua infância. Na minha opinião pessoal [e tenho certeza de que não é original], este enredo está errado e o diretor não passa por bloqueio algum e sabe exatamente o que está fazendo; está dirigindo o próprio filme em que está atuando como diretor, o "8 e 1/2". Isso fica muito claro em uma cena na qual ele fala que no seu filme terá de tudo, até um marinheiro sapateando, nisso um marinheiro passa pela cena e Guido diz que se ele sapatear, terá um papel no filme, e voilá, temos um marinheiro sapateando no filme. Não dá para ser mais metalinguístico do que isso.
Fica evidente que Fellini foi uma das principais fontes de inspiração do grande David Lynch, principalmente pelo risoto de sonho e realidade, do qual não é possível distinguir as partes tão claramente quanto se pensa à primeira vista. É claro que Lynch leva isso muitos passos adiante, o que se dá para notar só de ler os títulos traduzidos das suas obras.
"8 e 1/2" é um filme brilhante, fruto de uma mente artisticamente genial e que superou todas as minhas expectativas quanto ao cinema como arte, ganhando assim o primeiro lugar no meu ranking de filmes.
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PS: O nome "8 e 1/2" se deve a este ser o oitavo e meio filme feito pelo Fellini, tendo antes feito seis longas, dois curtas [portanto meio filme cada] e um meio longa, no qual ele foi co-diretor [portanto dirigiu só metade].
Há 9 anos
Um comentário:
Até ver 8 e 1/2, achava que Pulp Fiction era o melhor filme. Me enganei. Fellini fez uma obra inigualável em todos os sentidos. Roteiro, fotografia, atuações. Um filme que dá inveja.
Também gosto muito de David Lynch e, na verdade, nunca tinha parado para pensar na influência do italiano sobre ele. Não dá para negar.
Assim como Fellini, Lynch acaba com as noções de tempo, espaço e personagens em um filme. Isso para não falar que "Cidade dos Sonhos" também é uma obra metaliguistica. Em ambas, é possível perceber questionamentos sobre os caminhos do cinema.
Tentei escrever alguma coisa sobre 8 e 1/2 no meu blog (http://www.omaiseonada.blogspot.com), mas não consegui. É um texto sem grandes pretensões, mas interessante de ser feito.
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