Nesses últimos tempos comecei a ler alguns livros mais teóricos sobre fotografia, já que é isso que pretendo estudar pelo resto da vida. Entre eles está o clássico "A Câmara Clara", de Roland Barthes. Dentre as inúmeras coisas que ele diz sobre a fotografia e o que nos faz gostar mais de uma do que outra, está a divisão dela entre o Studium e o Punctum. O Studium, como o nome já diz, é o ambiente no qual fotografia está situada, não só o ambiente físico, mas também o histórico e representativo da situação. Para explicar o Punctum, cito as próprias palavras do Barthes: "Não sou eu que vou procurá-lo, é ele que salta da cena, como uma seta, e vem trespassar-me. (...) O punctum de uma fotografia é esse acaso que nela me fere". Citando Gera Samba, "é o tchan" da fotografia! Vale lembrar que toda fotografia possui um Studium, mas somente algumas possuem um Punctum.
Acho interessante a maneira masoquista com que Barthes vê a fotografia no geral. Para ele, uma foto é a morte de uma realidade passada e nós tentamos identificar traços de nós mesmos nela para reagirmos com emoções já conhecidas por nós, enquanto que o Punctum está lá para apunhalar nossa barriga e quebrar todo nosso senso enquanto tentamos nos encontrar no meio do Studium.
Enfim, estava fuçando o site da Magnum Photos, a maior agência de fotojornalismo que já existiu, e vi uma série de fotos sobre os protestos contra a goblalização, feitos na reunião do G8 em Gênova, na Itália. Eis que encontro essa foto do Thomas Dworzak:
O senhor gordo olhando para a câmera com sua roupa de caminhada e a mulher no outdoor atrás me ferem no meio desse Studium repleto de revoluções, policiais, repressão, etc. Ao notar o Punctum é que a fotografia deixa de ser descritiva e se torna algo a mais, algo ou alguém interessante com quem quero "conversar". Para mim, este é ponto máximo que um Punctum pode chegar.
Há 9 anos