quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Extensão da Obra de Arte

Faz um tempo que escrevo esboços para uma nova postagem aqui, mas acabo sempre descartando todos. Por isso vou tentar ser breve para não chegar naquele momento da redação em que você começa a achar tudo um lixo sem sentido, o que geralmente acontece na revisão, que vou pular. Entendam isso como um pedido de desculpas pelos erros de gramática/concordância/sentido/coerência/etc.


Queria escrever sobre a arte, de uma maneira bem definida, ao pé da letra. Ou seja, quero dizer que uma obra de arte é um conceito muito bem definido, ou seja(2), a definição da obra de arte é algo claro, embora existam teorias que nos iludem a pensar a respeito como se fosse algo muito mais profundo do que na verdade é. Vale lembrar que profundeza e complexidade não são sinônimos. As duas teorias que considero mais sensatas são a de Arte Institucional e de Arte como expressão, sendo que a primeira de certa forma engloba a segunda. A teoria da arte institucional define uma obra como algo que possui atributos e características que instituições reconhecidas consideram requisitos para este algo seja considerado uma obra de arte. A falácia do argumento circular é óbvia e ao mesmo tempo essencial. Trate algo como uma obra de arte e este o será - quase um provérbio bíblico. As obras de arte ou mesmo uma obra qualquer são produções humanas que recebem leituras humanas e portanto compartilham a mesma subjetividade da sua definição, as definições e as obras são culturais e datadas, pertecem a um certo povo, em uma certa época da história do universo, que pensa de uma certa maneira. Estamos em 2009, pensamos assim e é nóis.

O grande problema para mim, e creio que para a crítica, está em delimitar um corpo para a obra. Podemos considerar o exemplo mais citado de obra de arte de todos os tempos, a Mona Lisa. Como podemos pensar na Mona Lisa de Leonardo da Vinci, na Mona Lisa, quadro pintado no século XVI pelo pintor e inventor italiano Leonardo da Vinci, na Mona Lisa, pintura a óleo sobre madeira, etc etc. Poderíamos contextualizar o período histórico em que o quadro foi pintado, como também ele em relação às obras anteriores de da Vinci. Poderíamos analisar a influência que esta pintura exerceu sobre todas as outras posteriores até a nossa geração, como também na influência que exerceu sobre o enquadramento na imagem em geral. Ou não. Até onde podemos, devemos e queremos ir afundo para apreciarmos uma obra? Queremos achar pontos positivos e negativos para exercer nosso espírito crítico e dessa forma colocarmos em contraste com a crítica geral, o famoso senso comum, e vangloriar-nos por achar o que ninguém percebeu. Aliás, perceber é um ato muito mais complexo do que definir a arte, na minha opinião, pois como seres limitados, conseguimos receber informações do universo através de 5 sentidos e de forma razoavelmente suja, o que torna difícil escolher o que vamos perceber ou não, sendo que somos condicionados, através do nosso aprendizado, a inconscientemente perceber um certo padrão que nosso cérebro considerou agradável algum dia.

Em resumo, seria melhor para a crítica se padrões fossem estabelecidos para a crítica da arte, mas seria mais chato também. E eu troco o rigor pela aventura.

PS: Eu nunca li nada profundo sobre a crítica, sobre o autor ou sobre qualquer uma dessas coisas que acabei de escrever. Mas sei que eu estou em 2009, penso assim e é eu.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Coleção

Uma pequena coleção de citações de fotógrafos que eu gosto:


"The photograph is completely abstracted from life, yet it looks like life. That is what has always excited me about photography." - Richard Kalvar






"A photographer is an acrobat treading the high wire of chance, trying to capture shooting stars." - Guy Le Querrec





"I'm known for taking pictures very close, and the older I get, the closer I get." - Bruce Gilden






"The camera is an excuse to be someplace you otherwise don't belong. It gives me both a point of connection and a point of separation." - Susan Meiselas


PS: Todos fotógrafos da Magnum Photos.
PS2: Sim, eu idolatro a Magnum.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ensaio sobre a servidão

Com pai e mãe advogados, bastava eu ter feito Direito para levar uma vida dita como "a alta sociedade". Fugi disso, sem nenhum propósito maior, simplesmente por gostar de outro ramo, a física, o que não levei muito adiante, apesar de já estar formado nisso. Tendo descoberto a fotografia e sem ter parentes no ramo, comecei do zero, servindo e tendo contato com as pessoas que servem, o que está sendo muito mais interessante do que eu poderia imaginar.

O mais legal de estar no bastidores é poder observar as pessoas que trabalham nele e refletir sobre a sociedade como um todo. Estou falando dos motoristas, seguranças, eletricistas, encanadores, cozinheiros, garçons, decoradores, entregadores de enfeites e todas as outras pessoas que cuidam e limpam os bastidores do teatro na vida dos que as pagam para isso.

Sempre pensei que, se me colocasse nessa posição, fosse ter um sentimento de inferioridade sobre as outras pessoas, mas o engraçado é que aconteceu justamente o contrário. Sinto como se tivesse o poder de, a qualquer momento, acabar com tudo e fazer o cenário cair sobre os atores.

Foi só uma constatação boba que me deixou intrigado, por enquanto sem nenhuma conclusão filosófica ou de qualquer tipo a respeito. (e também eu estava precisando atualizar essa coisa aqui)

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"We do your laundry, cook your food and serve you dinner. We guard you while you sleep. We drive your ambulances. Do not fuck with us."
- Tyler Durden

Foto à esquerda: Peter Marlow (Magnum Photos)
Foto à direita: Wayne Miller (Magnum Photos)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Linda Eastman

Uma excelente artista que começou fotografando os famosos na década de 60 e assim cavou seu caminho para ser credenciada pela revista Rolling Stones, aumentando assim seu "studio" artístico, conhecendo então Janis Joplin, The Who, The Rolling Stones, The Beatles e assim seu futuro marido, Paul McCartney.

Assombrada (pelo menos no google) pela fama do seu ex-marido besourinho, Linda acaba sendo referida como a falecida mulher do baixista da maior banda que o mundo já teve, sendo que seu trabalho individual como ativista vegetariana e especialmente como fotógrafa é algo digno de um artigo próprio no wikipedia e um post neste blog.

Apesar de ter excelentes fotos no período em que passeou por entre os famosos, acho muito melhores as suas fotos caseiras com o Paul e seus três filhos: Mary (hoje fotógrafa também), Stella e James.


PS: Com este post percebi que o gosto por uma foto é realmente uma coisa muito individual. Queria postar uma foto do James, tirada pela Linda, entitulada "My Life" que vi há algum tempo, sendo que passei a última meia hora vasculhando o google para não encontrá-la em lugar algum.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

"Um" de Daniel

Muitas vezes nos deparamos com uma obra que define a própria arte, como acontece frequentemente comigo na fotografia, a minha favorita. Apesar de ter meus filmes prediletos [Pulp Fiction, Lua de Fel, Goodfellas, etc] , poucas vezes tive essa sensação com o cinema e nunca em um filme na sua totalidade, mas somente em algumas cenas. [vide post passado]


Foi então que assisti "8 e 1/2" (1963) do famoso Frederico Fellini e já na primeira cena tive o mesmo pensamento de quando vi o começo de Apocalypse Now [vide post passado(2)]. A fotografia é como eu sempre sonhei e esperei ver em um filme. Enquadramento e contraste perfeitos, como se cada frame fosse uma fotografia digna de premiação. Além de esbanjar na qualidade técnica, a criatividade dos enquadramentos também é algo invejável, sem falar do trabalho feito com os planos da imagem, deixando todas as cenas completas de forma que quando algo se desfecha no plano de fundo, imediatamente o foco muda e o primeiro plano começa a ser o centro das atenções, tendo assim uma direção muito dinânica, o que leva o espectador a entrar e a se sentir parte do mundo que está assistindo. Só senti isso com "8 e 1/2" e com "Os Sonhadores" do Bertolucci, portanto deve ser coisa de italiano; isso de querer ser sempre dinâmico e hospitaleiro, até com os filmes.

O enredo, assim como li em todos os sites da internet, é o de um diretor, chamado Guido, com um "bloqueio criativo" e que busca inspiração enquanto luta contra os seus problemas pessoais em meio a algumas lembranças da sua infância. Na minha opinião pessoal [e tenho certeza de que não é original], este enredo está errado e o diretor não passa por bloqueio algum e sabe exatamente o que está fazendo; está dirigindo o próprio filme em que está atuando como diretor, o "8 e 1/2". Isso fica muito claro em uma cena na qual ele fala que no seu filme terá de tudo, até um marinheiro sapateando, nisso um marinheiro passa pela cena e Guido diz que se ele sapatear, terá um papel no filme, e voilá, temos um marinheiro sapateando no filme. Não dá para ser mais metalinguístico do que isso.

Fica evidente que Fellini foi uma das principais fontes de inspiração do grande David Lynch, principalmente pelo risoto de sonho e realidade, do qual não é possível distinguir as partes tão claramente quanto se pensa à primeira vista. É claro que Lynch leva isso muitos passos adiante, o que se dá para notar só de ler os títulos traduzidos das suas obras.

"8 e 1/2" é um filme brilhante, fruto de uma mente artisticamente genial e que superou todas as minhas expectativas quanto ao cinema como arte, ganhando assim o primeiro lugar no meu ranking de filmes.

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PS: O nome "8 e 1/2" se deve a este ser o oitavo e meio filme feito pelo Fellini, tendo antes feito seis longas, dois curtas [portanto meio filme cada] e um meio longa, no qual ele foi co-diretor [portanto dirigiu só metade].